Esclareça-as e tire (ainda) maior partido da sua vida sexual
Por muito que se fale na pílula continuam a ser muitas as interrogações que o seu uso levanta. Encontre aqui respostas para as inquietações que este método contraceptivo feminino ainda suscita:
o que acontece ao nosso organismo quando tomamos a pílula? De que forma actua para impedir que a gravidez possa ocorrer?
Como explica Luís Ferreira Vicente, ginecologista e obstetra, num ciclo menstrual natural «verifica-se um pico da hormona LH [hormona luteínica] cerca de 36 horas antes da ovulação», a fase em que ocorre a libertação do óvulo que poderá ser fecundado por um espermatozóide (período fértil). Quando a mulher toma a pílula, o cenário é muito diferente: as alterações hormonais que conduzem à ovulação não acontecem. O ovário fica inactivo.
Na prática, explica o especialista, «a pílula actua através do componente de progestativo [versão sintética da hormona progesterona] que bloqueia a libertação da hormona LH que comanda a ovulação a partir da hipófise». Agora que já sabe como funciona o mais famoso contraceptivo oral do mundo, esclareça outras dúvidas sobre este método hormonal.
O que devo fazer antes de iniciar a toma da pílula?
Procurar aconselhamento junto do médico assistente. Como explica Luís Ferreira Vicente, «pela história clínica, excluem-se eventuais contra-indicações para determinado método e para o aconselhamento de outro. Não é necessário realizar análises, excepto em situações detectadas durante a consulta. O exame físico deve compreender o exame mamário e ser um pretexto para realizar, por exemplo, o Papanicolau, de rastreio do cancro do colo do útero».
Quais as vantagens deste método?
«Reduz o risco de cancro do ovário e do útero (endométrio). A redução do risco de cancro do ovário mantém-se nos cinco anos seguintes após a paragem da pílula», afirma Luís Ferreira Vicente. A sua toma também diminui o fluxo e a dor menstrual, bem como o risco de anemia associado a menstruações abundantes. Por último, «o risco de ocorrência de quistos funcionais do ovário é menos acentuado, pelo que, por vezes, é aconselhado a sua toma quando se detecta este tipo de quistos de forma a reduzi-los», adianta o especialista.
A pílula pode provocar cancro da mama?
Alguns estudos, com quase 20 anos, demonstraram que a pílula «aumentava o risco de cancro da mama, que persistia após dez anos e era independente do tipo, duração de uso e dosagem da pílula», afirma Luís Ferreira Vicente. No entanto, um estudo mais recente veio demonstrar que «não existe risco de carcinoma da mama com a utilização de contraceptivos orais. A pílula não aumenta claramente o risco de aparecimento desta patologia em mulheres com história familiar de carcinoma da mama», sublinha.
Quem não pode tomar a pílula?
«O risco está principalmente associado a um aumento da incidência de fenómenos tromboembólicos [obstruções vasculares provocadas por coágulos] de três para nove eventos em 100 mil utilizadoras por ano. Outros factores importantes no aumento deste risco são o tabagismo e as trombofilias [predisposição para a ocorrência de trombose], pelo que antecedentes de tromboembolismo contra-indicam a toma da pílula», refere o especialista.
Existem outros casos contra-indicados?
Outras situações que não permitem o seu uso são as «neoplasias hormonodependentes (cancro da mama), cefaleias ou dor de cabeça intensa, precedida de outros sintomas como perturbações visuais, e tabagismo em mulheres com mais de 35 anos. Na lista de situações contra-indicadas inclui-se ainda a hipertensão não controlada e doenças do fígado», esclarece Luís Ferreira Vicente.
Ao tomar a pílula, estou a ingerir uma dose excessiva de hormonas?
«As baixas dosagens da pílula actual estão longe dos 100 microgramas de mestranol [estrogénio sintético] das primeiras pílulas. As dosagens actuais variam entre os 15 a 30 microgramas de etinilestradiol, com a mesma eficácia contraceptiva. Isto significa que o ovário se encontra em repouso, sem produção hormonal que atingia concentrações maiores antes da pílula».
A pílula afecta a fertilidade?
Segundo o especialista, «a pílula só mantém eficácia contraceptiva durante o período em que se toma. O ovário retoma a actividade sempre que essa toma é interrompida ou quando a administração é irregular». Habitualmente, recomenda-se que se comece a tentar engravidar um mês depois da paragem da pílula.
«Durante esse período, deve ser iniciada a toma de ácido fólico para a prevenção dos defeitos do encerramento do tubo neural. Está comprovado o seu benefício quando a toma é iniciada um mês antes da concepção e mantida até às 12 semanas de gravidez», indica.
A pílula diminui o desejo sexual?
Luís Ferreira Vicente indica que «num ciclo sem pílula, ocorre uma libertação de hormonas pelos folículos que não se tornaram dominantes e que aumentam a libido e o desejo sexual na altura da ovulação. Com a pílula, os ciclos são anovulatórios, não ocorrendo esta libertação, pelo que pode haver uma diminuição do desejo sexual em algumas mulheres. No entanto, estudos recentes demonstraram não existir este efeito com a pílula».
A toma da pílula provoca o aumento de peso?
«Se ocorrer pode estar relacionado com um ambiente hormonal inadequado para essa mulher, pelo que se justifica uma alteração do tipo de contraceptivo. Felizmente, existe um leque variado de pílulas que permite adaptá-las a cada caso e não condicionar a mulher a uma única pílula», esclarece Luís Ferreira Vicente.
Devo ir ao médico?
«É nos primeiros ciclos de utilização da pílula que os efeitos adversos se manifestam», indica Luís Ferreira Vicente. Segundo o especialista, deve procurar ajuda se:
- Verificar maior frequência de dores de cabeça associada ou não a outros sintomas, como por exemplo, perturbações visuais.
- Ocorrer, depois dos primeiros dois ciclos, uma perda de sangue vaginal durante a toma.
- Sentir dor nas pernas associada a inchaço e vermelhidão. Pode ser um sinal de tromboflebite/ flebotrombose (trombose venosa) e motivar uma observação urgente.
Tipos de pílula
Pílula combinada
Resulta da combinação de duas hormonas sintéticas (etinilestradiol e progestagénio) e existe sob a forma de pílula monofásica (em que cada comprimido tem uma dosagem hormonal igual) ou trifásica (comprimidos com dosagens diferentes).
Resulta da combinação de duas hormonas sintéticas (etinilestradiol e progestagénio) e existe sob a forma de pílula monofásica (em que cada comprimido tem uma dosagem hormonal igual) ou trifásica (comprimidos com dosagens diferentes).
É preferencialmente utilizada pelas mulheres que preferem um melhor controlo do ciclo. Isto significa que «terão menstruações cíclicas expectáveis no intervalo das embalagens», salienta o ginecologista.
Pílula com progestagénio
Contém apenas a hormona que impede a ocorrência da ovulação.
Contém apenas a hormona que impede a ocorrência da ovulação.
Esta pílula é utilizada por mulheres que não toleram bem o estrogénio ou durante a amamentação, por não interferir na produção de leite materno, iniciando-se a sua toma entre o 14º e o 21º dia após o parto.
Sabia que...
«Se a mulher tiver de ser submetida a uma intervenção cirúrgica, que envolva uma imobilização prolongada, deverá deixar de tomar a pílula, dado que esta facilita a formação de coágulos, o que aumenta o risco de tromboembolismo», explica Luís Ferreira Vicente.